A ocorrência de eventos climáticos extremos e as alterações no regime hidrológico são as duas principais ameaças que o setor elétrico brasileiro deve enfrentar nas próximas décadas. 

É o que aponta um estudo do Instituto Acende Brasil, que analisa as tendências para o mercado de energia elétrica nos próximos 30 anos e sua importância para o Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050).

Divulgado em janeiro de 2021, o estudo indica que nas próximas três décadas, as mudanças climáticas podem causar perdas econômicas relevantes e impactar negativamente a geração, transmissão e distribuição de energia no país, alterando a disponibilidade e a confiabilidade de insumos como água, vento e irradiação solar.

É justamente por contar 83% da sua energia produzida por fontes renováveis, que o sistema elétrico brasileiro deve se preparar para reduzir sua vulnerabilidade às variações nos padrões de temperatura, precipitação, vento e insolação que podem afetar a oferta de energia.

Segundo o estudo, as mudanças climáticas vão impactar o setor elétrico principalmente de duas maneiras:

  1. Alterando a capacidade de geração hidrelétrica;
  2. Danificando as redes de transmissão e distribuição.

Diante da importância das usinas hidrelétricas para a matriz elétrica nacional, este artigo vai se concentrar em detalhar os impactos nesse segmento, que é responsável por 65% da geração de energia no Brasil.  

Alterações no regime hidrológico

Por mais que seja difícil mensurar em que grau e em que velocidade se darão as mudanças no clima, o fato da maior parte da energia produzida no Brasil ser proveniente da geração hidrelétrica torna o sistema naturalmente suscetível às condições hidrológicas do país. 

As mudanças no padrão hidrológico podem decorrer de alterações na biosfera e seus ciclos biogeoquímicos globais, fruto da emissão de gases do efeito estufa, mas também decorrem da alteração na forma do uso e cobertura do solo que podem resultar em mudanças climáticas locais.

Com a redução da disponibilidade hídrica em algumas regiões, a geração de energia pode cair significativamente, dificultando a operação dos reservatórios de regularização. 

Ao longo dos anos, a alteração no regime de vazões tende a causar um grave desalinhamento das condições operativas reais em relação às energias asseguradas em muitas unidades geradoras.

Segundo especialistas, essas condições podem demandar um ajuste da garantia física de algumas hidrelétricas nas próximas décadas, implicando em uma redução média da energia assegurada de 15% para o parque existente, e de 25% para o parque futuro (tomando por base a configuração do PNE 2030).

Estudos de previsão climática realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que a principal vulnerabilidade para produção de energia hidrelétrica está nas bacias ao norte e na região central do país, enquanto as bacias na região sul poderão ter seu potencial aumentado.

Isso mostra como a diversidade de cenários climatológicos é relevante no país, pois as mudanças climáticas podem afetar de forma bastante distinta as diversas bacias do Sistema Interligado Nacional (SIN). 

Além das alterações na disponibilidade de água, outro fator que impactará a geração hidrelétrica é o aumento na frequência de eventos climáticos extremos. Nesse caso, o excesso de chuvas pode causar um maior vertimento nas usinas, implicando em um menor aproveitamento da água afluente. 

Eventos extremos

É de senso comum entre estudiosos do clima que as próximas décadas devem trazer um aumento na frequência e na intensidade de eventos extremos. 

Sabendo como a intensidade das chuvas e a velocidade dos ventos podem alterar significativamente as condições de operação da rede elétrica, é possível prever que  as mudanças climáticas também afetarão a transmissão e distribuição de energia no país. 

Entre outros prejuízos, tais eventos podem causar redução na capacidade de transmissão de energia elétrica, aumento de perdas elétricas, redução de confiabilidade e elevação nos custos de implantação de novos projetos.

Devemos observar que as linhas de transmissão atualmente em operação no país foram projetadas para ter uma vida útil de 30 anos ou mais. 

Contudo, sua capacidade de transmissão pode ser reduzida por uma elevação na temperatura média e sua integridade pode ser comprometida diante de ventos mais fortes que os atuais. 

Outro fator climático importante é a intensidade e a frequência das chuvas e das descargas atmosféricas. Estiagens prolongadas podem provocar o aumento de partículas depositadas nas cadeias de isoladores das linhas de transmissão, ocasionando o desgaste de materiais e aumentando o risco de curto-circuito. 

Por outro lado, um aumento nas descargas atmosféricas pode prejudicar o isolamento elétrico das linhas, reduzindo sua confiabilidade. 

Prejuízos no horizonte

Tudo indica que o aumento na frequência de eventos climáticos extremos trará grandes prejuízos ao mercado de energia elétrica.

Para as distribuidoras, a redução de energia consumida durante interrupções causadas por eventos climáticos pode provocar uma diminuição de receita, além de penalizações regulatórias.

A indisponibilidade das linhas de transmissão também prejudica a qualidade do serviço prestado pelas concessionárias e impacta a remuneração dos seus investimentos. 

Atualmente, a receita dessas empresas corresponde à Receita Anual Permitida (RAP) deduzida da chamada Parcela Variável (PV), que varia de acordo com a disponibilidade do ativo de transmissão.

Nesse caso, a extensão territorial do país e sua grande variabilidade climática podem ajudar a prevenir situações extremas. 

Novos projetos de transmissão de energia estão cada vez mais incorporando fontes de geração localizadas em diferentes regiões, muitas vezes em extremos geográficos do território nacional. 

Como se preparar para o futuro

O primeiro passo para que o segmento de geração hidrelétrica possa se adaptar às mudanças climáticas é buscar soluções para prever os efeitos que as alterações hidrológicas e os eventos extremos podem causar nas suas estruturas.

A ideia básica é transformar incertezas em cenários de variação da demanda e oferta de eletricidade. 

Tudo isso com base em estudos aprofundados da hidrologia das principais bacias que concentram a geração hidrelétrica no Brasil.

Por meio desses estudos será possível formular cenários hidrológicos hipotéticos para auxiliar o planejamento da expansão e da operação do parque hidrelétrico de acordo com esta nova realidade. 

É preciso incorporar definitivamente a previsão de eventos climáticos ao planejamento do setor elétrico.

Atualmente, poucos sistemas de monitoramento de rede conseguem prever com antecedência e acurácia, as interrupções de fornecimento relacionadas a eventos climáticos.

Dessa forma, a maior parte das ações corretivas são adotadas de maneira reativa.

Ao investir no monitoramento de dados pluviométricos e vazões hidrológicas, os empreendedores do setor podem se antecipar e estruturar planos de resposta mais precisos e eficientes diante de um desastre.

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